Ontem visitei a pequena mas graciosa Feira do Livro de Cachoeira do Sul, exercitando um pouco da minha parcial solidão entre meus amigos inseparáveis, os livros. Depois do caminho traçado entre as bancas, decidi aproveitar as guloseimas do café montado especialmente para o evento na Casa de Cultura da cidade.
Porém, seria um passeio bem comum caso um senhor de nome Luis Carlos de Arapey não tivesse se aproximado de minha mesa e apresentado seu cartão com a lista de seus livros de poemas já publicados. Poucos minutos depois, a surpresa da abordagem transformou-se em insuspeita afinidade e a conversa passeou de forma empolgante por literatura, religião, política, cinema e música.
E é sobre a parte musical de nossa conversa que quero comentar aqui, indicando algumas raridades mencionadas por Arapey. No primeiro vídeo, um belíssimo tango de Virgilio San Clemente (letra) e Maruja Pacheco Huergo (música), El adiós (1937), na voz de Ignacio Corsini.
Nesta segunda dica, o grande Enrico Caruso interpreta La partida, de Eusebio Blasco Soler, uma clássica canção que tematiza as saudades da terra natal.
Neste terceiro vídeo, Guiomar Novaes, a fabulosa pianista brasileira que foi aclamada ainda adolescente por Claude Debussy, interpreta Frédéric Chopin:
E, para terminar, é importante destacar uma interpretação de Arapey sobre a dificuldade que a música platina, especialmente aquela melancólica e melodramática, tem de conquistar número expressivo de ouvintes do Rio de Janeiro até o norte/nordeste do país, corroborando a existência de uma “outra história” musical que acontece pelas plagas do sul da América do Sul. No entanto, existem belíssimas exceções do contato entre a música carioca e a melancolia tanguera. Assim, dedico a Luis Carlos de Arapey, este grande poeta uruguaio que vive há tantos anos no Brasil (acesse seu blog aqui), uma versão fabulosa de As rosas não falam (Cartola) pela voz do cantor franco-argentino Brian Chambouleyron, como singela homenagem à incrível conversa que tivemos ontem em Cachoeira do Sul.
Un fuerte abrazo, poeta!
outubro 11, 2010 at 3:30 am
Mas tchê Icaro,
Fazia tempos qu$e não conseguia um tempinho para ler teu blog. Hoje, finalmente, me dediquei a recuperar os textos atrasados e, justamente este, me chamou muito atenção. Incrível esta história tua aí em Cachoeira. E estas canções, todas bárbaras!
Vais entender o que eu vou dizer agora:
Este poeta sabe das coisas.
E o Brian também.
Abração,
Chico
outubro 27, 2015 at 11:44 am
Obrigado, amigo. Informo que nosso querido poeta, Luís Carlos de Arapey, partiu para outra vida em junho deste ano, mas seu legado e poemas continuam vivos em seus livros e em nossos corações. Seus amigos e familiares agradecem suas palavras, escritas no breve encontro de 2010. Em Cachoeira do Sul o Arapey tinha grandes amigos das famílias Frazão e Steigleder.
Deixo um link de um vídeo de nosso Amigo Comum, Arapey: https://youtu.be/rArKzk_Gwlg
Astá sempre.